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Há pouco mais de uma década, os actuais níveis de produção eram uma miragem. É preciso recuar até 2002, ano em que Angola alcançou a paz, para perceber a dimensão dos esforços empreendidos. Nessa altura, o país vivia praticamente de importações. 

Como o próprio nome diz, os conservantes em alimentos importados servem apenas para aumentar o tempo de duração e a segurança dos produtos, tendo em conta o longo período de armazenamento ou de transporte até ao consumidor final.

Muitos consumidores associam o uso de conservantes à presença de produtos químicos nocivos aos alimentos e à própria saúde. Apesar de se conhecer o propósito do uso deste recurso, que é o de preservar um estado já existente ou evitar possíveis danos devido à acção de agentes químicos (oxidação), físicos (temperatura, luz) ou biológicos (microrganismos), muitos consumidores associam o uso de conservantes à presença de produtos químicos nocivos aos alimentos e à própria saúde.

As dúvidas em relação aos conservantes, associadas aos preços geralmente mais caros, têm contribuído para a crescente preferência dos consumidores por alimentos produzidos no país. E esta alteração no comportamento dos consumidores, associada à escassez de divisas para as importações de mercadorias, está a influenciar a actividade dos sectores de compras das superfícies comerciais. 

No mercado formal como no informal, quando se trata de produtos do campo, as escolhas dos clientes recaem para os nacionais, mesmo quando os preços são praticamente iguais aos dos bens importados. 

“Hoje, o consumidor angolano é cada vez mais exigente na qualidade dos produtos que consome”, nota o presidente da Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (Ecodima).

Sintético nas observações que faz, Raúl Martins reconhece que os custos de produção no país são ainda relativamente altos. “O mais importante é que as bases já foram lançadas e o futuro aponta para uma situação de auto-suficiência alimentar.” 

Os ainda altos custos de produção são compensados pela qualidade dos produtos resultantes da agricultura biológica que se pratica na maior parte do território nacional. Também conhecido por agricultura orgânica, esse processo de produção não recorre a produtos químicos nem a organismos geneticamente modificados. 

Os avanços que se registam na agro-indústria resultam de investimentos estruturantes que Angola tem vindo a fazer na área da agricultura, desde que alcançou a paz, em 2002. Fruto desses investimentos, o país produz hoje perto de metade de um total de dois milhões e cem mil toneladas dos cerais de que necessita para o consumo, incluindo a produção de ração animal. 

Há pouco mais de uma década, os actuais níveis de produção eram uma miragem. É preciso recuar até 2002, ano em que Angola alcançou a paz, para perceber a dimensão dos esforços empreendidos. Nessa altura, o país vivia praticamente de importações. 

Angola viu o seu potencial agrícola, muito produtivo, aniquilado por 27 anos de guerra. O relançamento da agricultura, que começa justamente em 2002, teve como primeira etapa a remoção de minas antipessoais e outros engenhos explosivos dispersos pelo país. 

O que se seguiu foi a recuperação e criação de infra-estruturas de apoio à produção, ao mesmo tempo que era desenvolvido o programa de acesso a bens e serviços básicos à população. Em relação a infra-estruturas, e no que à produção diz respeito, destaque para os vários perímetros irrigados distribuídos por diversas regiões, no âmbito do Plano Nacional Director de Irrigação (Planirriga). Foram conseguidas vastas áreas de cultivo em terrenos nunca antes explorados. 

Em 2005, o Executivo aprovou em Conselho de Ministros o Modelo de Gestão dos Perímetros Irrigados, tendo criado na mesma altura a Sociedade de Desenvolvimento dos Perímetros Irrigados para gerir e supervisionar o património do Estado construído nos perímetros irrigados. 

Dos sete milhões e quinhentos mil hectares com elevado potencial de irrigação previstos no Planirriga, já foram concluídos 30 mil hectares, onde estão inseridos, entre outros, o Projecto Integrado de Desenvolvimento Agrícola da Quiminha (Luanda), os perímetros irrigados de Caxito (Bengo), Matala (Huíla), Cavaco (Benguela), Mucoso (Cuanza Norte), e Sumbe (Cuanza Sul). 

Os pólos agro-industriais estão a ser desenvolvidos sem prejuízo da agricultura familiar que ainda responde por 90 por cento da produção interna e para a qual é destinada parte substancial do orçamento do sector, assim como os empréstimos contraídos pelo Governo junto do Banco Mundial, do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, do Banco Africano de Desenvolvimento, destinados ao fomento da produção interna.

Em execução está um programa de agricultura familiar orientado para o mercado, nas províncias de Malanje, Bié e do Huambo, envolvendo 50 mil famílias. Os apoios do Estado à agricultura familiar incluem facilidades de créditos bancários, preparação dos solos, disponibilização de fertilizantes, vacinação de gado e assistência técnica, através de institutos públicos especializados.

Há cinco anos, o Executivo criou um mecanismo de apoio à agricultura familiar, designado Crédito Agrícola de Campanha, que já beneficiou 91 mil camponeses.

Apesar de não produzir ainda o suficiente para o consumo interno, o país já começa a exportar produtos agrícolas. Os empresários do sector são unânimes em afirmar que não é preciso suprir o défice da produção interna para depois partir para as exportações.

Em Maio do ano passado, Angola exportou para Portugal, a partir do Porto do Lobito, 17 toneladas de banana, 42 anos depois da última remessa. A iniciativa da Fazenda Agro-Industrial Bacilin foi saudada pelo Governo angolano. O relançamento da produção de banana em Angola resulta de avultados investimentos efectuados pelo Governo angolano na reabilitação e melhoramento dos sistemas de irrigação nas áreas tradicionais de cultivo. Antes da Independência Nacional, Angola chegou a produzir 160 mil toneladas de banana por ano.

O Executivo estabeleceu a meta de atingir nos próximos anos uma produção anual de 2,5 milhões de toneladas de cereais, 20 milhões de toneladas de mandioca, cobrir 60 por cento do consumo de frango com a produção nacional e reduzir para 15 por cento a importação de leite. 

Lacticínios 

A produção de leite e derivados é outra grande aposta do Executivo. O projecto Aldeia Nova, no Waku Cungu, município da Cela, província do Cuanza Sul, lidera o mercado.

Orçado em cerca de 70,5 milhões de dólares, o projecto, financiado pelo Governo angolano, em parceria com o grupo israelita LR, comporta, entre outros equipamentos de apoio à produção, matadouros de aves e gado, moinhos de farinha e fábricas diversas.

Dados estatísticos indicam que Angola consome anualmente cerca de 180 milhões de litros de leite, quantidade muito acima da produção nacional. Certo de que o país tem condições naturais para produzir o suficiente para o consumo interno, o Ministério das Finanças lançou, em 2012, um programa de dinamização do sector do leite, denominado “Sector Bandeira do Leite”.

O programa, destinado a fortalecer as micro, pequenas e médias empresas angolanas que actuam na indústria leiteira, insere-se nos esforços de substituição das importações pela produção nacional. 

Produção de carne 

Angola quer aumentar os níveis de produção de carne. Em 2015, o país celebrou um acordo com empresários brasileiros para instalação de 40 fazendas agropecuárias numa área de 200.000 hectares na província do Cuando Cubango. Calcula-se que o país gasta actualmente cerca de 600 milhões de dólares com a importação de carne. Para reverter a situação, o Governo prevê um investimento de 571,9 milhões de dólares, para aumentar a produção e reduzir as importações, que asseguram cerca de 80 por cento das necessidades do país.

O Programa Dirigido à Produção de Carne Bovina, aprovado pelo Executivo, prevê a importação de 340.509 animais para reprodução e de 1.010.152 animais para recria e engorda, das raças Bonsmara, Simentaller e Brahma.

O programa prevê ainda o melhoramento das condições de produção nas explorações pecuárias empresariais, através da sua especialização na reprodução, cria, recria e engorda animal. Angola tem actualmente uma capacidade de abate de 195.360 animais por ano, para um total de 39.072 toneladas de carne. 

Manancial de potencialidades 

Um boletim informativo do Ministério da Agricultura largamente difundido pela imprensa dá conta de que Angola tem potencialidades naturais para atingir níveis de produção sustentáveis que podem contribuir muito rapidamente para o seu crescimento económico. 

A existência de solos férteis para a agricultura, a biodiversidade, o clima, a genética e a a­bundância de recursos hídricos, associada a uma expressiva faixa da população cuja a­ctividade ­está ­directamente ­relacionada com a produção agrícola, constituem factores favoráveis ao desenvolvimento agropecuário do país, refere o boletim. O documento lembra que o sector florestal angolano é o segundo na região Austral de África, depois da República Democrática do Congo, com um potencial rico e variado de recursos florestais e faunísticos.

O fim da guerra em 2002 permitiu ao Governo angolano retomar um conjunto de acções, entre as quais a disponibilização de recursos financeiros vinculados a programas de reabilitação e de construção de infra-estruturas, realça o documento.

Como resultado desse esforço, Angola tem vindo a reduzir progressivamente as importações de produtos da cesta básica. Para este ano, o Ministério do Comércio tem em agenda melhorar os mecanismos de escoamento de produtos do campo para as cidades, em condições competitivas em relação aos produtos importados.

Aliás, é para garantir que os produtos nacionais cheguem ao consumidor dentro dos padrões ­internacionais que o Ministério do Comércio criou, em distintos pontos do país, centros de logística e distribuição, encarregados de proceder à compra, higienização e embalagem dos produtos do campo, antes de chegarem às grandes superfícies comerciais. 

A outra grande aposta do Ministério do Comércio é a conversão do comércio informal e formal, com a abertura de lojas de proximidades, que além de inibirem a informalidade, vão funcionar como mecanismos de geração de emprego, receitas fiscais, entre outros benefícios para o Estado e para as comunidades.

Na verdade, em relação às lojas de proximidade, o Ministério do Comércio já começou a fazer a sua parte. Entre os parceiros que elegeu como prioritários estão o Instituto de Desenvolvimento Agrário, o Instituto de Preços e Concorrência, a Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna (Ecodima), a União Nacional dos Camponeses Angolanos (UNACA), o Ministério da Economia, as Forças Armadas Angolanas e a Polícia Nacional.

Fonte: Angonotícias, 06/01/2017

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