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O presidente do Governo Regional do Príncipe elegeu hoje a construção de um porto na ilha como "a grande prioridade" nacional, uma obra que considerou "determinante e urgente" para contrariar o isolamento da região autónoma.

A ilha do Príncipe, com cerca de 7.000 habitantes, é servida, por via marítima, por um pontão, onde apenas pode atracar determinado tipo de navios, o que, combinado com o preço das ligações aéreas com São Tomé, torna "muito difícil" a circulação de pessoas e bens, disse, em entrevista à Lusa, o presidente do executivo regional, José Cardoso Cassandra.

A construção de um porto na capital do Príncipe, Santo António, está orçada em 15 a 20 milhões de euros, segundo um projeto suportado pela União Europeia, que prevê também a requalificação da baía, o desassoreamento da zona e o alargamento do canal para mais 60 metros.

'Tozé' Cassandra (como é conhecido) comentou que "está a ser muito difícil" obter financiamento para a obra e que São Tomé e Príncipe "não tem capacidade" para suportar os custos.

"É necessária a participação do Governo central, até porque sozinhos, nós no Príncipe, não conseguimos mobilizar estes recursos para podermos avançar com o porto", comentou o governante, que cumpre atualmente o quarto mandato.

Sublinhando que "é determinante e urgente a construção de um porto no Príncipe", comentou que "já há uma consciência nacional e regional de que o porto deve ser a grande prioridade do país nos próximos tempos".

O projeto do porto foi tema de conversa com o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve no Príncipe nos dias 28 e 29 de maio para as celebrações do centenário da comprovação da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein.

"O Presidente Marcelo vem seguindo com atenção os grandes projetos de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe. (...) Espero que seja o nosso embaixador na mobilização dos recursos", comentou 'Tozé' Cassandra.

Recentemente, as dificuldades de transporte entre as ilhas são-tomenses agravaram-se com o naufrágio do navio "Amfitriti", que causou oito mortos e nove desaparecidos, no dia 25 de abril, e com o incêndio do navio "Ville Abidjan", dias depois.

"Num momento em que os custos da passagem aérea são proibitivos para a população do Príncipe, exportar os produtos do Príncipe para o exterior e enviar para São Tomé fica difícil, tal como receber produtos de São Tomé e de outras paragens", referiu.

"Temos de resolver esse problema do porto para facilitar a vida dos cidadãos, permitir que circulem por ar ou por terra, conforme as suas condições e as suas cargas, para podermos até mesmo melhorar os níveis da economia e de desenvolvimento da ilha", comentou.

Um desenvolvimento que passa também pelo turismo, sustentou.

No rescaldo das comemorações do centenário do eclipse solar total de 29 de maio de 1919, cuja observação na ilha do Príncipe permitiu comprovar a teoria de Einstein, Cassandra defendeu que São Tomé e Príncipe "deve apostar fortemente num turismo de investigação cientifica e colocar o país no mapa do roteiro turístico internacional".

"Este evento [que durante vários dias atraiu ao Príncipe governantes, cientistas, investigadores, professores e alunos], deixou várias janelas para podermos colher uma série de ações que devemos tomar a partir de hoje, numa perspetiva de avançarmos com o desenvolvimento do turismo ou, se quisermos, consolidarmos mais o nosso turismo", salientou 'Tozé' Cassandra.

Reforço da autonomia

Em entrevista à Lusa, o presidente do Governo Regional do Príncipe defendeu a necessidade de uma revisão constitucional para reforçar a autonomia da ilha, mas admitiu dificuldades nesse processo, perante a atual "crispação política".

José Cardoso Cassandra referiu que a autonomia da região autónoma "é muito limitada" e deu exemplos. "Estamos a lutar há uns quatro anos com a EDP Renováveis para avançarmos com um projeto de energias renováveis aqui no Príncipe para deixarmos de depender dos combustíveis fósseis. É um problema logístico trazer para aqui gasóleo. Não temos um centro de "stockagem" de combustível. (...) O poder central tem dificuldade em perceber isto e leva muito tempo", relatou, explicando que o Governo Regional não pode "avançar diretamente" com acordos deste tipo, porque "comprometem o Estado e tem de ser o Estado a fazer".

Outra preocupação é a ligação submarina de fibra ótica: "O Governo central amarrou o cabo submarino à ilha de São Tomé, o Príncipe não está amarrado. Nunca se pensou no Príncipe como parcela do país para ser amarrado ao cabo submarino. Nós não fazemos a harmonia neste processo de desenvolvimento e o Príncipe sai, de longe, prejudicado com este processo. As dificuldades são acrescidas", comentou "Tozé" Cassandra.

Se houvesse esta ligação, acrescentou, a ilha poderia fazer telemedicina ou cursos online com universidades do exterior.

"Eu defendo que de facto o país devia olhar para esta questão, a experiência que nós temos do processo de autonomia é boa e tem servido ao país", afirmou, referindo que o Príncipe tem hoje "os melhores indicadores sociais e económicos em alguns setores".

"O processo de autonomia está a ser bom. Então vamos melhorar, a bem do país e das nossas populações", sustentou.

Para aprofundar a autonomia da região autónoma, é necessário abrir um processo de revisão constitucional, o que Cassandra considera ser uma oportunidade para o país: "Temos muitas outras questões que devemos arrumar" - da realização das eleições regionais e autárquicas, que na lei fundamental está estipulado que devem decorrer a cada três anos, ao sistema político.

Questionado sobre se considera que na atual legislatura há condições para uma revisão constitucional, o governante admitiu ser difícil alcançar esse consenso.

"Estamos com uma crispação política desnecessária. Nem sequer compreendo as razões dessa crispação política que se decidiu colocar no país, mas penso que é necessário (...) nós criarmos consensos para fazermos reformas no país e fazer o país avançar", defendeu.

Cassandra afirmou que "toda a gente quer fazer [as alterações], mas toda a gente está cheia de medo, porque instalou-se uma desconfiança profunda entre os políticos e ninguém acredita em ninguém".

"Eu penso que nós tínhamos de ter uma nova atitude e gostarmos um pouco mais do nosso país, abrirmo-nos e disponibilizarmo-nos para esse consenso. Olharmos para o país e para projetos de desenvolvimento, antes de olharmos para as pessoas", disse, pedindo que se "evite a fulanização dos problemas".

Fonte: Plataforma, 09/06/2019

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