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“Ainda temos as estimativas, que estão a apontar para uma recessão 14% [do PIB], o que é muito para um país que fechou 2019 com 5,7% de crescimento. Mas isso demonstra o real impacto e intensidade da covid-19”, começou por explicar Ulisses Correia e Silva.

A estimativa de outubro passado do Banco de Cabo Verde (BCV) apontava para, no cenário base, uma recessão de 8,1%, que podia chegar aos 10,9% no cenário mais adverso, enquanto as previsões anteriores do Governo colocavam a recessão, após quatro anos consecutivos de crescimento económico de cerca de 5% (anuais), entre 6,8% e 8,5%.

Questionado pela Lusa nesta entrevista, Ulisses Correia e Silva justificou que esse desempenho económico teve impacto sobretudo da quebra na procura turística, devido às restrições impostas pela pandemia, afetando um setor que representa cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano e que tinha registado em 2019 um recorde de 819 mil turistas.

“Nós vamos ter uma perda de turismo em cerca de 72%, comparando 2020 com 2019, são cerca de 600 mil turistas a menos, isso impacta sobre tudo. Sobre o emprego, sobre as receitas fiscais, além das consequências que temos tido relativamente ao próprio tecido empresarial e às dinâmicas necessárias que o Governo implementou para as proteções [de empresas e trabalhadores, devido aos efeitos da covid-19]”, explicou.

Depois de em 2020 o Governo ter tido a necessidade de aprovar, em julho, um Orçamento Retificativo para acomodar os aumentos com os apoios sociais e cuidados de saúde, para lidar com a pandemia – com a taxa de desemprego a duplicar, para quase 20% -, Ulisses Correia e Silva admitiu a repetição desse cenário este ano, tendo em conta a retoma mais lenta do que era previsto da procura turística por Cabo Verde, devido às novas vagas da pandemia que afetam os países emissores de turistas para o arquipélago, sobretudo da Europa.

“Poderá vir a ser [necessário, um Orçamento Retificativo]. Repare, esta pandemia coloca quase todos os países a fazer navegação à vista, relativamente às consequências, às medidas de proteção, aos ajustamentos. Não digo que não seja necessário, vamos ver quando chegar o momento, para podermos ter o real impacto, pelo menos no primeiro semestre deste ano, se haverá necessidades ou não de fazer ajustamentos”, reconheceu.

O primeiro caso de covid-19 no arquipélago foi diagnosticado em 19 de março de 2020, precisamente quando o país suspendeu todos os voos comerciais internacionais, imediatamente antes da declaração, pela primeira vez, do estado de emergência, para conter a transmissão. Quatro dias depois, seguiu-se a primeira morte provocada pela covid-19, um turista inglês de 62 anos, que tinha sido também o primeiro caso oficial da doença no país, dos cerca de 16.000 confirmados desde então.

Ulisses Correia e Silva reconhece agora, um ano depois, que esse foi o período de maior tensão que viveu na liderança do país (desde 2016), quando Cabo Verde registou “os primeiros casos” de uma doença então ainda nova.

“Isso é curioso porque nós estávamos a tentar retardar ao máximo a entrada da covid-19 em Cabo Verde, tomámos as medidas. Mas foi o momento mais stressante para todos, porque a cada caso íamos seguindo, vem um caso seguinte, vem um caso seguinte, eu sabia que as pessoas lá em casa também contavam”, recordou.

Com o aumento crescente de casos diários, e após um confinamento geral que se prolongou, diferenciado por ilhas, de abril a maio, surgiu a adaptação à nova realidade.

“Depois, quando atinge um determinado volume de casos que iam acontecendo deixou de haver essa contabilidade diária, essa pressão de contar mais um caso que aparece. E, acumulando, começou a estar ao nível daquilo que seriam as consequências da covid-19. Portanto, é o momento do impacto inicial e das medidas que tivemos que tomar – depois o estado de emergência, a primeira experiência para um país como Cabo Verde -, com todo o confinamento e as consequências desse confinamento. Foi de facto um momento muito impactante”, reconheceu

 

Fonte: África 21 Digital, 22/03/2021

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