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Cabo Verde é dos países no mundo onde a energia é mais cara. O Governo quer que mais de metade do fornecimento energético venha das energias renováveis até 2030.

Atualmente, 21 por cento da energia produzida provém da eólica (19 por cento) e solar (dois por cento). O plano do Governo cabo-verdiano é dar mais peso à energia solar (indústria fotovoltaica). Recentemente, foi dado um passo significativo nesse sentido, com a assinatura de um contrato entre o Ministério da Indústria, Comércio e Energia, e a Tâmega Energy. O acordo prevê a construção da maior central solar fotovoltaica do país, que vai ocupar uma área de cerca de 20 hectares, na Calheta, ilha de Santiago.

A central solar visa a produção de uma energia mais limpa e sustentável, tornando o país menos dependente de combustíveis fósseis. A capacidade é de 10 megawatts para produzir cerca de 18 gigawatts, e deverá evitar a emissão de cerca de 12.500 toneladas de dióxido de carbono. Estão ainda em curso mais dois projetos: a eólica em São Domingos (10 megawatts) e a solar na Boa Vista (5 megawatts). As três iniciativas deverão aumentar a capacidade de produção de energia renovável em cerca de 75 por cento.

A Central Solar Fotovoltaica em Calheta está integrada no Programa Nacional para a Sustentabilidade Energética (PNSE) e obedece ao Plano Diretor do Setor Elétrico 2018-2040.

Se o plano traçado for atingido, as energias renováveis chegarão aos 30 por cento em 2025, e aos 50 por cento cinco anos depois. Até 2050, todos os automóveis a circular no país deverão ser elétricos.

 

Sol, vento e ondas

Cabo Verde tem um dos maiores regimes de vento no mundo (18m/s) e um grande potencial solar (rácio de energia/dia de 6-8 wh/m²/dia). Apesar dos recursos naturais, a energia em Cabo Verde é três vezes mais cara do que na União Europeia, e é das mais caras do mundo, num país onde o salário mínimo nacional é de 13 mil escudos cabo-verdianos (cerca de 117 euros).

A empresa que fornece energia em Cabo Verde - a Electra, na lista das empresas que o Governo pretende privatizar - depara-se com perdas na ordem dos 25 por cento, causadas sobretudo por roubos.

O objetivo do Governo cabo-verdiano é reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e atingir uma taxa de penetração das energias renováveis de cerca de 20 por cento.

As energias renováveis apresentam-se, também, como atrativas oportunidades de negócios, como investimentos em parques energéticos renováveis na maioria das ilhas e a possibilidade de parcerias público-privadas.

Para incentivar a aposta no setor, o Governo criou benefícios ao nível do crédito fiscal, por exemplo. A produção e montagem de equipamentos de energias renováveis beneficiam de um crédito fiscal por dedução à coleta do IUR (imposto único sobre o rendimento), em valor correspondente a metade dos investimentos relevantes.

A isenção de Imposto de Selo e de Direitos Aduaneiros e de IUP (imposto único sobre o património) é mais um dos benefícios para quem invista no setor das renováveis em Cabo Verde.

Além das energias eólica e solar, Cabo Verde está a avaliar outras formas de aproveitar os recursos naturais que tem, como o mar que rodeia o arquipélago.

Uma investigação científica no país concluiu que a extração de energia das ondas no arquipélago pode abastecer a totalidade da energia consumida nas ilhas do Maio e Brava, e 15 a 20 por cento da que é utilizada na ilha de Santiago, onde está a capital, Praia.

Elaborado pelo investigador da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Cabo Verde, Wilson Léger Monteiro, em colaboração com o docente António Sarmento, do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa, o estudo concluiu que a costa leste da ilha do Maio é um dos locais privilegiados para a produção de eletricidade limpa.

A investigação, cujos resultados foram publicados na Revista de Desenvolvimento de Energia Renovável, do Centro de Biomassa e Energia Renovável da Universidade Diponegoro, da Indonésia, analisou dados de 31 anos de ondas e ventos, através de um programa europeu (Streamlining of Ocean Wave Farm Impact Assessment - SOWFIA) e do "software" Simulating Waves Nearshores (SWAN).

Segundo Wilson Léger Monteiro, tendo em conta informações como as séries temporais do clima de ondas (altura, período e direção) e sobre o vento no oceano, foi possível ver o potencial de produção de energia em alto mar e também perto da costa.

"Em alto mar, ronda os 15,16 Kilowatt por metro de frente de ondas. Este potencial vai diminuindo à medida que nos aproximamos da costa", explicou.

O investigador garante que uma central de extração em alto mar permitiria assegurar o consumo de ilhas mais pequenas, como a do Maio e a Brava, assim como 15 a 20 por cento da ilha que mais consome energia: Santiago.

Para Wilson Léger Monteiro "faz todo o sentido" aproveitar a força das ondas para a produção energética, mas desde que se escolham os "dispositivos corretos", tendo em conta o clima de ondas em Cabo Verde.

 

Incentivo ao consumo

Na capital cabo-verdiana existe um Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial (CERMI), inaugurado em março de 2015, que custou 850 milhões de escudos (cerca de 70 milhões de patacas) e foi financiado pela cooperação luxemburguesa.

Este centro está vocacionado para a promoção de cursos que estimulam o uso de energias bioclimáticas e um centro de formação para as comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Recentemente, o ministro da Indústria, Comércio e Energias em Cabo Verde, Alexandre Monteiro, visitou este CERMI, quando anunciou que existe um pacote de 400 milhões de euros (cerca de 3,5 mil milhões de patacas) previstos para, até 2030, serem instalados sistemas de produção de energias renováveis e nas áreas de serviços de apoio que vão proporcionar "milhares de empregos".

Em relação aos automóveis elétricos, o Governo aprovou um diploma sobre a importação dos veículos elétricos livres de direitos aduaneiros, com o objetivo de "incentivar a mobilidade elétrica no país".


Fonte: Plataforma, 21/06/2019

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